A revista Superinteressante especial "29 Coisas que Não Fazem Sentido", publicada em junho do ano passado, traz uma série de mais de 60 matérias sobre temas que, sob as lentes naturalistas, não fazem sentido. Exemplo: Por que as baleias têm cérebro tão grande? Por que temos câncer? Se os ETs existem, por que não fazemos contato? Por que o homem é o primata com o maior pênis? Por que temos fé? Por que morremos? Por que somos o único bicho [sic] com linguagem? Para que serve o sexo? Por que os humanos têm consciência? Se somos primatas, por que temos tão pouco pêlo no corpo?
Entre explicações risíveis e outras até bem fundamentadas, o texto que mais me chamou a atenção foi o que tratou da pergunta "Por que a vida surgiu no Universo?" A matéria começa lamentando: "Pena que essa historinha [a do big bang e do surgimento e evolução da vida] ainda esteja longe de realmente explicar a coisa toda. Isso porque todo mundo entende o que aconteceu para que o Universo acabasse produzindo vida, mas ninguém entende por que o Universo nasceu ‘configurado' para permitir todas essas maravilhas. Parece uma sorte tremendamente grande."
O texto prossegue: "Aparentemente, nós só estamos aqui porque algumas regulagens específicas das leis da física - a intensidade da gravidade, ou o nível de atração entre elétrons e prótons, partículas que compõem os átomos - vieram ‘certinhas' para permitir a nossa existência. Quer exemplos? Se a gravidade fosse um pouco mais forte, as estrelas teriam vida muito curta e nunca haveria tempo hábil para a evolução das espécies; se fosse mais fraca, não seria capaz de agregar a massa em estrelas. E a atração mútua entre elétrons e prótons? Se fosse diferente do que é, não existiriam átomos estáveis. São parâmetros que, devidamente ajustados, tornaram o Universo em lugar habitável. A pergunta que não quer calar: Quem ou o que fez essa ‘tunagem', ou ‘regulagem' do Cosmos, lá no começo de todas as coisas?"
Como se trata de uma revista com pretensão de ser científica e como o naturalismo filosófico não admite que a Teologia se atreva a sugerir uma resposta (sim, porque assumem a priori que o sobrenatural não existe), e como insistir no fator sorte para tanta organização pega mal, eles se saem com a "resposta": "Aplicar a teoria da seleção natural de Darwin ao Universo poderia resolver de vez o mistério da existência. Tal como ocorre com os seres vivos na Terra, os universos que mais se ‘reproduzem' seriam os mais bem-sucedidos."
Claro! Por que não pensaram nisso antes? A teoria-explica-tudo está aí pra isso mesmo. Nada de sorte, nada de Deus. Seleção natural cósmica!
Segundo Superinteressante, há cientistas que defendem a existência de infinitos universos, cada um com sua afinação diferente. "O nosso não teria nada de especial, seria apenas mais um de uma gama de universos totalmente desligados uns dos outros, componentes de um Multiverso."
E antes que a gente pergunte, eles respondem: a ideia é completamente metafísica, "outro tipo de roubalheira intelectual, em que se usa de hipóteses não verificáveis para solucionar (entre aspas) um problema apresentado pela configuração do Universo".
Constrangedor, não? Dão um chega-pra-lá no criacionismo para defender a metafísica pura. Pra não ficar no campo da especulação pura e simples, apelam para Darwin e a teoria-explica-tudo. E fica mais ou menos assim: surgiram muitos universos diferentes a partir de buracos negros. Por "seleção cosmológica natural" (é assim que o físico Lee Smolin chama o processo, em seu livro A Vida do Cosmos) os universos menos aptos a produzir vida ou mais aptos a produzir outros universos estariam em número maior que os que têm poucos "filhos". "Resultado: torna-se, de súbito, muito mais provável que estejamos em um Universo como o nosso, em vez de em qualquer outro menos prolífico, digamos." Simples, não?
Detalhe: a matéria seguinte trata da pergunta "Por que sabemos tão pouco sobre a existência de Jesus?" A reportagem não aceita que os evangelhos sejam documentos confiáveis sobre Jesus Cristo, embora admita que autores não cristãos do século 1 e começo do século 2 (como Flávio Josefo, Tácito e Suetônio) O tenham mencionado. Um pequeno quadro na página 35 afirma que o ossuário de Tiago (urna funerária com uma inscrição em aramaico que menciona Jesus) é falso. Pena que o autor do texto não leu o convincente livro de Hershel Shanks (editor da Biblical Archaeology Review), O Irmão de Jesus (Editora Hagnos).
Resumindo: quando o assunto é religião, crença, criacionismo, Deus, etc., levanta-se todo tipo de questionamento, ainda que se possa contar com evidências históricas e arqueológicas a favor. Mas quando se trata de explicar do ponto de vista naturalista a origem do Universo e da vida, os mais mirabolantes argumentos podem ser usados - mesmo que não haja evidências empíricas para eles. Viva a coerência!
Michelson Borges
Entre explicações risíveis e outras até bem fundamentadas, o texto que mais me chamou a atenção foi o que tratou da pergunta "Por que a vida surgiu no Universo?" A matéria começa lamentando: "Pena que essa historinha [a do big bang e do surgimento e evolução da vida] ainda esteja longe de realmente explicar a coisa toda. Isso porque todo mundo entende o que aconteceu para que o Universo acabasse produzindo vida, mas ninguém entende por que o Universo nasceu ‘configurado' para permitir todas essas maravilhas. Parece uma sorte tremendamente grande."
O texto prossegue: "Aparentemente, nós só estamos aqui porque algumas regulagens específicas das leis da física - a intensidade da gravidade, ou o nível de atração entre elétrons e prótons, partículas que compõem os átomos - vieram ‘certinhas' para permitir a nossa existência. Quer exemplos? Se a gravidade fosse um pouco mais forte, as estrelas teriam vida muito curta e nunca haveria tempo hábil para a evolução das espécies; se fosse mais fraca, não seria capaz de agregar a massa em estrelas. E a atração mútua entre elétrons e prótons? Se fosse diferente do que é, não existiriam átomos estáveis. São parâmetros que, devidamente ajustados, tornaram o Universo em lugar habitável. A pergunta que não quer calar: Quem ou o que fez essa ‘tunagem', ou ‘regulagem' do Cosmos, lá no começo de todas as coisas?"
Como se trata de uma revista com pretensão de ser científica e como o naturalismo filosófico não admite que a Teologia se atreva a sugerir uma resposta (sim, porque assumem a priori que o sobrenatural não existe), e como insistir no fator sorte para tanta organização pega mal, eles se saem com a "resposta": "Aplicar a teoria da seleção natural de Darwin ao Universo poderia resolver de vez o mistério da existência. Tal como ocorre com os seres vivos na Terra, os universos que mais se ‘reproduzem' seriam os mais bem-sucedidos."
Claro! Por que não pensaram nisso antes? A teoria-explica-tudo está aí pra isso mesmo. Nada de sorte, nada de Deus. Seleção natural cósmica!
Segundo Superinteressante, há cientistas que defendem a existência de infinitos universos, cada um com sua afinação diferente. "O nosso não teria nada de especial, seria apenas mais um de uma gama de universos totalmente desligados uns dos outros, componentes de um Multiverso."
E antes que a gente pergunte, eles respondem: a ideia é completamente metafísica, "outro tipo de roubalheira intelectual, em que se usa de hipóteses não verificáveis para solucionar (entre aspas) um problema apresentado pela configuração do Universo".
Constrangedor, não? Dão um chega-pra-lá no criacionismo para defender a metafísica pura. Pra não ficar no campo da especulação pura e simples, apelam para Darwin e a teoria-explica-tudo. E fica mais ou menos assim: surgiram muitos universos diferentes a partir de buracos negros. Por "seleção cosmológica natural" (é assim que o físico Lee Smolin chama o processo, em seu livro A Vida do Cosmos) os universos menos aptos a produzir vida ou mais aptos a produzir outros universos estariam em número maior que os que têm poucos "filhos". "Resultado: torna-se, de súbito, muito mais provável que estejamos em um Universo como o nosso, em vez de em qualquer outro menos prolífico, digamos." Simples, não?
Detalhe: a matéria seguinte trata da pergunta "Por que sabemos tão pouco sobre a existência de Jesus?" A reportagem não aceita que os evangelhos sejam documentos confiáveis sobre Jesus Cristo, embora admita que autores não cristãos do século 1 e começo do século 2 (como Flávio Josefo, Tácito e Suetônio) O tenham mencionado. Um pequeno quadro na página 35 afirma que o ossuário de Tiago (urna funerária com uma inscrição em aramaico que menciona Jesus) é falso. Pena que o autor do texto não leu o convincente livro de Hershel Shanks (editor da Biblical Archaeology Review), O Irmão de Jesus (Editora Hagnos).
Resumindo: quando o assunto é religião, crença, criacionismo, Deus, etc., levanta-se todo tipo de questionamento, ainda que se possa contar com evidências históricas e arqueológicas a favor. Mas quando se trata de explicar do ponto de vista naturalista a origem do Universo e da vida, os mais mirabolantes argumentos podem ser usados - mesmo que não haja evidências empíricas para eles. Viva a coerência!
Michelson Borges
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