“E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus.”
O que é que as crianças têm de tão especial que os adultos também precisam ter para que também possam entrar no reino celestial? Embora tenha ouvido diversos sermões a esse respeito, essa pergunta sempre permeou minha mente. Em todas as oportunidades que tinha, sempre observava com atenção o comportamento das crianças com as quais tive o privilégio de ter contato, na busca de encontrar algo em sua personalidade além daquilo que é dito tradicionalmente (pureza, inocência, simplicidade, etc.).
Em certa ocasião, ao adquirir um exemplar da revista Mente e Cérebro (Edição Especial n° 20) – O Mundo da Infância, minha atenção foi despertada por um artigo do professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Dr. Yves de La Taille, autor do livro vencedor do prêmio Jabuti de 2007, Moral e Ética: Dimensões intelectuais e afetivas (Artmed, 2006). Em seu artigo, com o título “Despertar do senso moral”, o Dr. Taille afirma que:
“A submissão das crianças aos mandamentos de figuras de autoridade não se explica por cálculos de interesse (evitar punições e usufruir recompensas), embora tais cálculos possam influenciar vez ou outra, e sim porque as referidas figuras despertam nelas uma fusão de medo e amor. O medo decorre do fato de os adultos serem vistos como grandes, fortes e poderosos: trata-se de um sentimentos que quase inevitavelmente o menor e mais fraco experimenta diante do maior e mais forte. [...] Segundo Piaget, é a fusão entre esses dois sentimentos que faz com que a criança pequena se submeta aos ditames dos adultos, não por medo do castigo, mas porque quer cumprir as ordens dessas pessoas que ela considera fortes e boas. Logo, submetem-se não por não ter alternativa, e sim por achar bom fazê-lo.”
Infelizmente, é cada vez maior o número de pessoas que se dizem convertidas ao cristianismo buscando algum tipo de prosperidade material (visando à recompensa) ou mesmo com receio de um sofrimento eterno como consequência do estilo de vida que tiveram durante sua existência (visando a evitar uma punição). Contudo, quando se compara esses motivos que levam muitas pessoas a obedecer a Deus (a figura de autoridade) com os motivos que levam as crianças a obedecer às figuras de autoridade, como aqueles citados pelo Dr. Taille, percebe-se que não se está se tornando como as crianças!
O Senhor Deus, Criador de toda a vida, conhece perfeitamente o funcionamento de nosso corpo e de nossos sentidos. Sendo conhecedor de todas as nossas potencialidades e limitações, Ele nos forneceu várias instruções, as quais visam ao nosso bem estar físico, psíquico e espiritual. Dessa forma, devemos obedecer às Suas instruções não por medo de punições ou visando recompensas, mas porque, assim como as crianças vêm nas figuras de autoridade pessoas fortes e boas, devemos ver em Deus um Ser grande, forte e poderoso, o qual deve despertar em nós reverência e amor.
(Tarcísio Vieira, biólogo e mestre em Química pela UNB)