A aproximação de líderes evangélicos da Rede Globo vem sido comemorada por uma parte desse público mas ainda recebe críticas de importantes líderes de igrejas históricas do segmento. Muitos vêem nessa aproximação a secularização da igreja e mesmo a perda da relevância de sua mensagem central: o Evangelho de Cristo.
Para o pastor da Igreja Presbiteriana de Santo Amaro e doutor em teologia reverendo Augustus Nicodemus, o problema central é que setores da igreja evangélica se renderam à cultura do entretenimento. “A postura da igreja em relação ao mundo tem que ser de confronto, ainda que feito em amor, para com as manifestações culturais que refletem a decadência moral e espiritual da humanidade”.
Segundo o teólogo, as culturas não são neutras, e nem sempre se prestam à comunicação do Evangelho. Ele lembra que na época da Reforma, os cristãos estariam mais preocupados em conquistar a arte, música e conhecimento e trazê-los cativos a Cristo muito mais do que se aproximar dos poderosos executivos da Globo a fim de serem incluídos em programações de entretenimento.
“Aqui vemos a Igreja esmolando espaço aos poderosos deste mundo. No mundo funciona assim, se alguém pede um favor tem que estar pronto para dar algo em troca. Uma igreja evangélica refém da Globo é profeta de rabo preso”, analisa. Para Nicodemus, muitos estão confundindo o poderoso Evangelho de Cristo com teologia da prosperidade, show gospel e entretenimento gospel.
Para a professora de História da UFPR e doutora da Unicamp, Karina Bellotti, que falou à Folha de S. Paulo, a aproximação da Globo com esse público visa primordialmente alcançar esse promissor mercado consumidor, ao mesmo tempo em que os evangélicos, que possuem cada vez maior participação política, podem conferir à emissora relevância como formadora de opinião. Segundo sua análise, o segmento evangélico tem crescido em seu poder aquisitivo ao mesmo tempo em que vem obtendo maior visibilidade na sociedade.
Já para o bispo Walter Mac Alister, bispo primaz da Igreja Cristã Vida Nova, a aproximação de setores evangélicos da Globo é “absurda”. “A igreja pensa que por este caminho irá avançar na causa do Evangelho. Mas único resultado disso é a crescente secularização da igreja e sua caminhada para uma irrelevância cada vez mais aguda”, diz.
Ele acredita que a singularidade da mensagem do Evangelho não permite que este possa ocupar os espaços nos meios de comunicação de massa, pois assim corre o risco de se esvaziar e se tornar parte da paisagem mundana.
“A Igreja continua na sua derrocada ladeira abaixo. É lamentável e só confirma a tese do meu livro “O Fim de Uma Era”. A Igreja como ao conhecemos hoje está prestes a falir e desaparecer, prevê.
Nesse encontro, foi fechado o apoio e cobertura da Globo para eventos como a Marcha para Jesus, o Dia do Evangélico e o Dia da
Bíblia. Os líderes, em contrapartida, firmaram seu apoio ao Festival Promessas, criado pela emissora para divulgar a música gospel.